Durante CPI, vereadores descobrem rede familiar entre os representantes das empresas que receberam investimentos milionários do PreviPalmas

por DICOM publicado 06/12/2018 12h46, última modificação 06/12/2018 12h46

A Câmara de Palmas convocou na noite desta terça-feira, 5, mais uma reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga os investimentos do PreviPalmas. Dando sequência aos trabalhos, a comissão ouviu três testemunhas: Danielle Rodrigues dos Santos, ex-assessora jurídica do PreviPalmas, Ivete Magali Winter Reis e Carlos Eduardo Franco, ambos representantes da Icla Trust e MHFT Investimentos.

Entre os membros da Comissão, os vereadores Léo Barbosa (SD) e Marilon Barbosa (PSB) não compareceram e apresentaram justificativa de ausência. Os membros Professor Júnior Geo (PROS), Gerson Alves (PSL) e Vandim do Povo (PSDC, atual DC) conduziram a reunião. Estavam presentes ainda, os vereadores Milton Neris (PP), Rogério Freitas (MDB), Lúcio Campelo (PR) e Ivory de Lira (PPL).

Rede familiar

A testemunha Ivete Magali Winter Reis, funcionária da empresa Icla Trust, foi a primeira a ser ouvida. Geo afirmou que Ivete atuou no processo de credenciamento para os investimentos da Icla Trust, fato confirmado pela testemunha, “sou procuradora da empresa”. No entanto, a mesma afirmou que “atua na área administrativa e não na área de investimentos”. Ao vereador Vandim do Povo a depoente alegou não conhecer o ex-prefeito Carlos Amastha e o ex-diretor Maxcilane Fleury.

Ao interpelar a testemunha, Geo apresentou provas de que membros do Cais Mauá possuem parentesco de primeiro grau com a depoente (filho e irmão), além de grande proximidade com demais sócios da Icla Trust. Já o vereador Milton Neris apresentou nomes de membros que aparentemente compõem uma rede de pessoas com vínculo familiar, que tem ligação direta com as empresas que receberam os investimentos do PreviPalmas. “A dona Ivete sabe de muita coisa, eles devem comemorar esses investimentos juntos”, afirmou o parlamentar ao comprovar que os membros são intimamente ligados à depoente.

Em várias ocasiões Reis alegou desconhecer processos e pessoas quando interpelada pelos parlamentares. “Eu fico com dó do nosso funcionalismo, pois essa empresa Icla Trust tem a capacidade de surrupiar os servidores e ainda enviar aqui uma pessoa que diz nada ter a ver com o assunto”, disse o vereador Lúcio Campelo ao se referir à testemunha.

Investimentos

Carlos Eduardo Franco de Abreu, representante da Icla Trust e MHFT depôs em seguida e se declarou “gerente de pesquisa e análise, além de especialista em investimentos”. Para Geo, Franco atuou no credenciamento junto aos fundos de investimentos. O parlamentar mostrou que o depoente também tem grau de parentesco com pessoas que ocupam cargos de confiança nas empresas que receberam os investimentos do PreviPalmas e questionou sua contratação. “Fui selecionado para a empresa por competência, entrei como estagiário”, disse o depoente ao justificar que seu trabalho nada tem a ver com relação de parentesco, mesmo sendo filho do sócio majoritário.

Ao questionar Franco, Geo constatou o despreparo do depoente para o cargo pelo qual responde. A testemunha confirmou possuir formação acadêmica em engenharia civil e experiência na área financeira, após conhecimento adquirido em uma pós-graduação, que não foi concluída.

O vereador Lúcio Campelo relacionou o pai da testemunha com a empresa NSG Capital e Distribuidora de Títulos e Valores, responsável pelo calote de mais de R$ 303 milhões ao Igeprev. Essa empresa gerenciava o Fundo BFG, das churrascarias Porcão, e a partir de 2014 passou a se chamar Icla Trust Distribuidora de Títulos e Valores Imobiliários.

Milton Neris (PP) pressionou Franco sobre os sócios e funcionários das empresas em que possui participação, mas a testemunha alegou que não saberia dizer os nomes dessas pessoas. “De cabeça assim, eu não saberia lhe dizer”, respondeu.

Os vereadores se irritaram com o depoente, que não forneceu informações claras às perguntas feitas pelos parlamentares. “Estou estarrecido com essa testemunha. Quero saber o capital social das empresas que ele fez parte, a origem do dinheiro, de onde veio os recursos. Também quero o diploma de conclusão do curso de engenharia e a Certificação de Profissional da Anbima que o capacitaria a atuar com investimentos”, solicitou à mesa o vereador Rogério Freitas.

Credenciamento

A terceira oitiva foi com a ex-assessora jurídica do PreviPalmas, Danielle Rodrigues dos Santos, que afirmou ter sido indicada ao cargo através do partido, PSDC, atual DC (Democrata Cristão), que é o mesmo partido que o ex-presidente do PreviPalmas, Maxcilane Fleury presidia à época dos investimentos.

Júnior Geo afirmou que Danielle emitiu parecer favorável ao credenciamento das empresas que receberam os investimentos, porém Danielle afirmou que “o credenciamento tem a intenção de ser amplo e que ela pode credenciar mil empresas e investir em apenas uma”. Danielle usou esse exemplo para ilustrar que a empresa credenciada nem sempre seria investida.

Para Rogério Freitas, a ex-assessora jurídica do PreviPalmas não observou a legalidade ao autorizar o credenciamento de empresas que possuem relação com os investimentos inseguros.

Próximos passos

Os membros da Comissão Parlamentar de Inquérito deverão se reunir extraordinariamente para discutir os próximos passos da CPI. Durante as oitivas desta quarta-feira os parlamentares falaram sobre a necessidade de convocação de novas testemunhas. Para Geo, o importante é dar prosseguimento aos trabalhos para que os servidores possam ter mais tranquilidade quanto às suas aposentadorias.